A hipocrisia do Ocidente

O "Rei dos reis da África" chegou ao poder 1969 e morreu aos 69 (Crédito: France Presse)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Claro que sabíamos que um dia Muammar Gaddafi seria preso ou morto (até Bin Lande teve esse destino), mas ninguém esperava tão rapidamente e do jeito que foi. O número 69 estava em seu destino: chegou ao poder em 1969 e morreu aos 69 anos.

O coronel, o “cachorro louco do Oriente Médio” ou até mesmo o “Rei dos reis da África” era o ditador há mais tempo no poder no mundo, 42 anos. Se por um golpe de Estado ele apareceu, por tiros nas pernas, peito e cabeça ele se foi.

Agora, o que me deixou decepcionado foi o comportamento do Ocidente. Não que eu apoiasse as crueldades de Gaddafi, mas o raro leitor pode fazer um pequeno exercício de reflexão.

Até o final dos anos 90, o coronel era tido como um pária pelas potências. Não sem razão, já que Muammar patrocinou inúmeros atentados terroristas que mataram centenas de pessoas inocentes.

No final da década e início dos anos 2000, vendo que as sanções internacionais estavam estrangulando sua economia, o líder da Líbia resolver “mudar de lado”. Do discurso anti-Ocidente, passou a “novo amigo” de países como EUA, Reino Unido, França e Itália (esse em caráter especial com o excêntrico Silvio Berlusconi).

Renunciou às armas de destruição em massa, admitiu o crime do atentado ao avião Pan Am (1988) e pagou indenização bilionária às famílias das vítimas.

Essas atitudes lhe renderam fotografias com Nicolas Sarkozy, Tony Blair, Barack Obama, o bufão Berlusconi e, claro, muito dinheiro para seu país. País, caro leitor, que tem um dos melhores indicadores socioeconômicos do continente.

Um aspecto interessante a ser analisado é que em nenhum momento a oposição falou em depor Gaddafi por causa da situação econômica. Não que fosse um paraíso morar na Líbia, mas seguramente melhor do que Zimbábue e Somália, por exemplo.

Porém, quando a Primavera Árabe chegou à Líbia, o coronel Muammar Gaddafi não sabia como “eliminar esse movimento” e partiu para o banho de sangue total. Era o que a Otan precisava para tirar do poder alguns de seus “amigos indesejáveis”, como muitos que tem pelo mundo, como o rei da Arábia, Abdullah.

A operação da aliança militar foi patrocinada por França, Reino Unido e EUA. Obama chegou a autorizá-la ainda quando estava no Brasil, em fevereiro. Cercada de irregularidades, basta comparar o documento proposto e o que foi feito na Líbia, a incursão foi criticada por Brasil, Rússia, China e Alemanha.

Consequências

Milhares morreram na guerra civil que começou em fevereiro. Mesmo vendo seu governo ruir com todos seus principais auxiliares deserdando, o “cachorro louco” disse que iria morrer como um “mártir”. Talvez não era sua ideia deixar o planeta Terra, aos 69 anos, numa emboscada em um sistema de tubulação. Ainda mais em seu berço, Sirte.

A Otan já anunciou o fim de sua estadia no país, um dia depois da morte de Gaddafi. Curioso, não? E o futuro dos líbios, será que importa?

 

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